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Análise Crítica: Anime 5e, Financiamento da Tria

Personagens do RPG Anime 5E enfrentam um dragão em arte estilo mangá, com o texto central “Crítica Anime 5E”.
Heróis enfrentam criatura colossal no universo de Anime 5E, em arte que sintetiza o espírito do sistema d20 reformulado.

Você pode ter torcido o nariz quando ouviu pela primeira vez o termo Anime 5E. E com razão. Porque há algo de visceralmente contraditório em imaginar que o sistema mais mainstream e domesticado do RPG moderno — o sistema d20 de Dungeons & Dragons 5ª edição — em ironia, poderia dar conta do exagero, da velocidade e da incongruência poética dos animes. Um sistema que ainda tem calafrios com saltos mortais duplos, agora tentando simular lutas onde o personagem se divide em sete versões de si mesmo para fazer um monólogo interno enquanto explode metade do planeta? Pois é.

Essa foi, inclusive, a minha reação inicial. Desconfiança. Ceticismo. Um certo ranço que já bate automaticamente quando vejo um projeto se apresentar como “feito pra quem gosta de D&D e de anime”. E eu não gosto de nenhum dos dois. O primeiro virou sinônimo de fórmula engessada; o segundo, muitas vezes, uma caricatura estética vendida a fórceps pela cultura de massa. Então quando o Bruno Mares, da Tria Editora, me mandou o PDF finalizado e revisado do Anime 5E, a pergunta que me veio foi: isso ainda vale a pena? Bruno, eu to fazendo essa BAGAÇA POR NOSSA PARCERIA, SAIBA DISSO. 

E aqui estou eu. Fazendo a análise. Não porque mudei de ideia sobre animes. Mas porque li o livro. E fazer isso por um pedido, me deu uma perspectiva diferente de algo que, sem isso, eu sempre torceria o nariz.

Porque o que está em jogo aqui não é um crossover de fanboy. O Anime 5E não é um skin de Goku em cima de uma ficha de bárbaro. É um trabalho meticuloso, autoral, cheio de escolhas e renúncias, feito para forçar a 5ª edição a se contorcer até caber numa armadura estética que ela nunca suportou. E essa operação estética, quando feita com honestidade e método, pode produzir resultados que surpreendem até o mais azedo dos críticos — como este que vos escreve.

O autor, Mark MacKinnon, não é um estranho no ninho. É o criador do Big Eyes, Small Mouth (BESM), aquele mesmo RPG que tentou, lá nos anos 2000, capturar o espírito dos animes com mecânicas abertas e personagens hiperbólicos. E foi ele também quem escreveu o tal do BESM d20, uma versão desajeitada e mal testada que tentou colar regras anime no esqueleto da 3ª edição do D&D que a Devir trouxe em uma tradução mais atrapalhada ainda. O resultado? Uma coisa esquisita, amada por alguns, odiada por muitos. E agora, anos depois, ele volta com Anime 5E, uma espécie de redenção — ou vingança? — sobre os mesmos alicerces.

Capa da terceira edição do RPG BESM, com personagem de anime em uniforme escolar canalizando energia mágica em fundo vermelho.
Personagem canalizando energia na icônica capa da terceira edição de BESM, RPG precursor da estética anime nas mesas de jogo.

No vídeo de divulgação do canal Contar e Mestrar, Bruno Mares não esconde: “É o BESM d20, só que pra quinta edição. O mesmo autor, o mesmo estúdio. O mesmo raciocínio, mas repaginado“. E o mais interessante é que ele mesmo reconhece o potencial de estranhamento: “Você pode ser um Slime Cardcaptor” — e diz isso com brilho nos olhos, sem ironia. Um Slime. Que coleta cartas. E, se quiser, também pode ser um Samurai com poderes de dobra de som. Ou um Parasita psíquico com inclinações românticas. O jogo não te obriga a nada, e isso é seu maior risco e sua maior força.

Porque o Anime 5E parte do pressuposto de que você sabe o que quer. E se não souber, tudo bem. Ele te oferece duas formas de criar personagens: o modo clássico da 5E — raça, classe, ficha pronta — ou um sistema por pontos que lembra o GURPS, só que menos chato. A diferença é que aqui, cada escolha tem um preço. Você quer asas? Vai custar pontos. Você quer ser pequeno? Pode te dar desvantagens — mas também mais pontos para gastar. É um jogo onde até defeitos são moeda. Um tipo de capitalismo narrativo que, paradoxalmente, liberta.

No Reddit, a recepção foi polarizada. O usuário RedRiot0 declarou sem rodeios: “BESM d20 foi uma droga. Sem testes, feito pra lucrar na onda da OGL 3.5. Eu esperava que o Anime 5E fosse melhor, mas quando ouvi que era baseado nisso, perdi as esperanças“. Mas ele mesmo admite depois: “Se você quer jogar Naruto ou JoJo, procure outro sistema que faça isso melhor. Mas não se prenda ao d20 só porque é o que você conhece“. Uma crítica dura, porém justa. E que serve, ironicamente, como elogio indireto ao Anime 5E. Porque ele não tenta ser JoJo. Ele tenta ser Anime.

E o que é anime, afinal? É shōnen, é mecha, é mahō shōjo, é space western, é kodomo, é slice of life. É Naruto e é Made in Abyss. É Pokémon e é Death Note. É tudo. E é por isso que nenhum sistema tradicional funciona direito. Porque anime não é um gênero. É uma linguagem. E o sistema precisa ser flexível o suficiente para permitir essas modulações de linguagem — sem perder o equilíbrio de jogo. E aí que o Anime 5E brilha. Porque ele equilibra.

 Personagem de Anime 5E manipulando chamas em pose de combate com efeitos de fogo ao redor.
Arte de ação destacando o potencial cinematográfico de personagens em Anime 5E, com domínio de elementos como o fogo.

No blog Jeff’s Game Box, a resenha é entusiasmada: “Anime 5E pegou as regras como estavam escritas e as transformou em algo fenomenal, do jeito que só os criadores do BESM poderiam fazer. É rápido, solto e jogável novamente. Hiyah!”. O tom é quase de alívio: finalmente um suplemento que não sabota a própria proposta.

O livro é colorido, grande (21x28cm), com layout leve e arte que, sim, remete a traços de anime — mas sem cair no fanservice genérico. A organização é competente: começa explicando o sistema de pontos, depois apresenta as raças (14 novas, como Arqui-ínferos, Bestas Piscantes, Gosmas e Kodamas), depois as 14 classes (como Criança Mágica, Samurai, Psionicista e Treinador de Monstros). O nome das classes já te dá uma ideia do tom. É bonecagem consciente, declarada, assumida. Mas não é desleixada. Cada classe vem com poderes próprios, escalonamento de pontos, sugestões de combinação. E, mais importante, com equilíbrio.

No vídeo, Bruno reforça: “Eles pegaram as classes mais fortes da 5E como referência. O jogo sobe um pouco a barra de poder. Mas há nivelamento. Se você foca tudo numa coisa só, fica overpower, mas perde versatilidade. Se espalha os pontos, tem mais opções, mas menos força bruta. É escolha. É estratégia“.

E o jogo oferece regras para tudo isso: golpes direcionados, acertos críticos, monstros clássicos com variações, combate tático, modificadores de tamanho (sim, tem personagem que fica gigante). Você pode ser uma Gosma que muda de forma, um Mímico que copia habilidades, ou até mesmo um personagem sem raça, construído 100% por pontos. E se quiser usar o conteúdo da 5E tradicional, pode. O livro até sugere formas de converter tudo — equilibrando o poder. Porque aqui, a palavra de ordem é equilíbrio.

E não há nada mais difícil de equilibrar do que expectativa. O público de anime é apaixonado, mas exigente. O público de D&D é ortodoxo, mas preguiçoso. Fazer um produto que fale com os dois exige coragem. E a Tria teve.

Sim, a Tria é uma editora que assumiu o risco de trazer esse jogo ao Brasil. Uma editora que, em plena crise do mercado editorial, colocou um financiamento coletivo no ar com a meta de R$10 mil e já ultrapassou os 220% com quase dois meses de campanha ainda pela frente. E tudo isso com o PDF do livro já pronto, revisado e entregue aos apoiadores assim que a meta foi batida. É raro. É louvável. E, sim, é um modelo.

O Anime 5E pode não ser o jogo que você esperava. Mas é, talvez, o jogo que o sistema d20 precisava. Uma provocação estética. Um experimento de adaptação. Um espelho torto colocado diante do D&D — e, por isso mesmo, revelador.

E se você ainda está se perguntando se vale a pena, volte ao começo. Você torceu o nariz? Pois então leia. Nem que seja para continuar torcendo. Mas pelo menos, torça com fundamento. Porque esse livro tem argumento — e é isso que faz toda a diferença.

Anime 5e e a Anatomia da Versatilidade: Quando a Ficha se Dobra ao Desejo

Sim, você pode fazer um Slime Cardcaptor. Pode fazer uma Criança Mágica de três metros de altura que dobra o som com gestos de K-Pop. Pode inclusive montar um Negociante Demoníaco que pilota um mecha movido a emoções reprimidas. E tudo isso sem que o livro te olhe torto, sem que o sistema te diga: “não pode”. Porque Anime 5E não é um sistema. É uma caixa de brinquedos — dessas que você abre e, de repente, tudo parece possível de novo.

Slime simpático de Anime 5E com expressão carismática, ideal para campanhas lúdicas e criativas.
Slime, Criança Mágica ou Dobrador de Som — em Anime 5E, a ficha é só o começo. A imaginação faz o resto.

Mas não se engane. Isso não é sinônimo de bagunça. A liberdade aqui é método. É parte estrutural do design. Mark MacKinnon não fez um RPG para agradar fãs de anime. Fez um sistema que obriga o jogador a pensar como um autor de anime. Porque aqui, a ficha não é o personagem. É o esqueleto de uma ideia que você vai dobrar, moldar, reescrever, até que vire algo digno de uma abertura de temporada.

Essa maleabilidade se traduz num sistema de criação híbrido, como falamos antes, Bruno Mares explicou  no vídeo do canal Contar e Mestrar: “Você pode criar personagem pela estrutura clássica — raça, classe, ficha pronta — ou pelo sistema de pontos, onde cada escolha tem um custo e cada custo, uma consequência“. O que isso significa na prática? Que um mesmo conceito pode ser construído de diversas formas. Você quer ser um samurai-robô com controle mental? Pode pegar a raça Meio-Troll, adicionar Qualidades que permitam controle psíquico, e ainda escolher a Classe Cavaleiro Tecnológico. Ou, se preferir, montar tudo por pontos, item por item. Cada vantagem, cada defeito, cada nuance — tudo custa. Tudo exige escolha.

Essa economia de pontos, aliás, é uma das grandes sacadas do jogo. Porque ela funciona como espelho do próprio anime. Você não tem recursos infinitos. Você precisa priorizar. Você precisa aceitar que todo poder tem um preço — mesmo que seja narrativo. E isso, num sistema d20, é quase heresia. Porque a 5ª edição acostumou seus jogadores a builds fechadas, caminhos únicos, combinações “ótimas”. Aqui, não. Aqui você se compromete com o conceito. Ou você é versátil e sobrevive, ou é unidimensional e morre bonito.

E o livro te ajuda. Não com trilhas de build, mas com sugestões narrativas, referências explícitas a obras como Solo Leveling, Sword Art Online, Naruto, Pokémon, Frieren e outras. Inclusive, algumas raças e classes são, de fato, acenos a essas obras. Os Nekojin — óbvio. O Treinador de Monstros — nem se fala. A Criança Mágica — Sailor Moon sorri em aprovação. Mas o jogo não para nas referências. Ele te oferece ferramentas. Ele diz: “Se quiser, dá pra fazer isso. E também dá pra misturar. E também dá pra subverter. E também dá pra quebrar tudo“. A frase recorrente no vídeo com Bruno é essa: “VOCÊ PODE“.

Você pode, inclusive, ignorar a parte estética e usar o livro apenas como uma engine de customização de personagens para campanhas convencionais. Porque mesmo quem torce o nariz para animes — e este que vos escreve ainda o faz — vai encontrar no Anime 5E um modelo de como pensar design de personagem sem cair no binarismo classe/nível. Dá pra jogar Dark Sun com esse livro. Dá pra fazer Eberron virar um delírio pós-apocalíptico de samurais ciborgues. Dá pra simular Berserk. E dá pra fazer One Piece.

A Proposta não é Mecânica — é Estética. E isso Muda Tudo.

Porque onde a 5ª edição ainda está engatinhando para simular nuances emocionais, o Anime 5E te obriga a nomear desejos. As classes, por exemplo, não são só carreiras. São arquétipos afetivos. O Psionicista não é só alguém com poderes mentais. Ele é, como disse Bruno, um “personagem que tem controle mental, ou que é vulnerável a isso, e que gira em torno dessa ideia“. O Dobrador não é o Elementalista genérico da fantasia ocidental. Ele pode dobrar som. Dobrar sombra. Dobrar tristeza. E isso tem mecânica. Tem impacto.

As Qualidades e Defeitos são o coração desse sistema. Elas são a gramática da bizarrice. É nelas que você define se seu personagem tem asas, se ele se transforma, se é vulnerável a luz, se troca de forma, se explode quando sente amor. Algumas Qualidades são permanentes. Outras, ativáveis. E todas são moduláveis por pontos. Isso cria um sistema onde ser pequeno ou gigante não é flavor — é mecânica. Um Slime não é engraçadinho: é uma ficha inteira com lógica própria. Ele pode ser gasoso, gelatinoso, simpático, malévolo, ou tudo isso ao mesmo tempo.

O jogo te dá regras para isso. E dá também para o Mestre: explicações claras sobre como montar desafios, construir PNJs, modular Níveis de Desafio com base em pontos gastos pelos personagens. Há, inclusive, monstros com blocos prontos — mas a graça está nas ferramentas. Você quer um kaiju que copia poderes? Tem como fazer. Quer uma criatura psíquica que simula traumas da infância? Dá pra montar. Quer misturar Saci-Pererê com Sailor Mercury? Boa sorte — e o jogo não vai te julgar.

A própria ficha de personagem é uma carta em branco que convida ao excesso. O layout é intuitivo, e mesmo quem vem da 5ª edição tradicional vai reconhecer os campos. Mas ao lado dos modificadores de Atributo, surgem Qualidades, Defeitos, pontos gastos, poderes ativáveis. É uma ficha mais viva. Mais mutante.

E ainda assim, o livro insiste em equilíbrio. Bruno Mares reforça: “As classes da 5ª edição que forem usadas aqui precisam ser reequilibradas. O livro dá sugestões claras. Porque o jogo sobe um pouco a barra de poder“. Isso é crucial. Porque Anime 5E não é uma caricatura. Não é uma paródia. É um jogo sério sobre exagero. E tratar exagero com seriedade é o que diferencia um RPG de um meme.

 Cena de Anime 5E com grupo aventureiro animado, incluindo humanos, criaturas mágicas e um slime azul sorridente.
A essência de Anime 5E está aqui: diversão, fantasia exagerada e possibilidades infinitas de personagens.

Tudo isso em 266 páginas coloridas, com arte original e texto claro. O livro da versão brasileira ainda recebeu um cuidado especial. Segundo o próprio Bruno, “a versão em português tá mais bonito. Trocamos algumas imagens e ajustamos detalhes na diagramação“. E acredite: está perceptível. O texto flui melhor que na edição gringa. Há uma leveza, uma organicidade que nem sempre é regra em traduções de RPG. A Tria fez algo raro: localizou com inteligência. Adaptou sem pasteurizar. Melhorou. Será que tá querendo virar o Artifício RPG no nível mega master de qualidade de tradução? A resposta é: tá quase lá. Só não alcançou porque minha soberba não permite admitir. 

Mas voltando ao tema do cuidado com a versão em português: isso importa. Porque o público brasileiro é mais criativo do que disciplinado. A cultura de ficha pronta, build otimizada, combo de fórum — tudo isso é resquício da lógica importada. O Anime 5E, se bem usado, pode ser um divisor de águas. Um chamado à imaginação irresponsável. Um lembrete de que RPG é, antes de tudo, performance do desejo.

É claro que isso assusta. Como diz um dos comentários no Reddit: “Anime não é gênero. É estilo. E estilo não se simula com tabela. Se vive“. Pois bem. O Anime 5E não simula. Ele te joga no palco.

E você que se vire.

Se quiser repetir o Goku, tudo bem. Mas a proposta do livro é outra: criar o Goku que ninguém viu ainda. O Goku que sente medo. O Goku que ama errado. O Goku que troca de corpo com a Bulma e descobre que o verdadeiro poder está em… bom, isso é com você.

No fim, é isso: Anime 5E não é um jogo de anime. É um jogo de possibilidades. De exagero com propósito. De liberdade com estrutura. Um manual de como não ter vergonha de ser brega. E de como fazer isso com inteligência de design.

E esse é o mérito maior dessa proposta.

Você pode torcer o nariz. Mas experimente montar sua ficha. Depois a gente conversa.

O Avesso do Xerox: Quem é a Tria, e Por Que o Anime 5E Brasileiro não é só uma Tradução

Acorde: este não é mais um projeto de importação passiva. E a Tria não é mais uma dessas editoras que se limitam a traduzir PDFs estrangeiros com cola quente e glossário automatizado. Não. O que está sendo feito aqui, com Anime 5E, é uma reconstrução — daquelas que exigem não apenas direitos, mas escolhas. Escolhas editoriais, visuais, culturais. Escolhas que revelam intenções.

E isso fica claro desde o começo do livro em PDF. O leitor mais atento nota os nomes: Bruno Mares, Rafael Tschope e Calvin Semião. Os três à frente da Tria Editora. Os três com um currículo que, de tão extenso, já nem cabe mais nos rodapés de entrevista. Estamos falando de gente que passou por Pathfinder, Starfinder, Chamado de Cthulhu, Caçador: A Revanche, Conan 2d20, Star Trek Adventures, Symbaroum, Knave, Beyond the Wall, PunkApocalyptic. Gente que carrega cenário e sistema como quem carrega espólio de guerra.

Bruno, por exemplo, é uma dessas figuras que você só percebe que é central quando começa a ligar os pontos. Parece pouco. Não é. É, aliás, o tipo de ajuste que só quem se importa com o leitor local faz. E não, isso não é babação de ovo. É crítica textual.

Veja: quando uma editora pega um livro gringo e publica no Brasil, ela pode fazer isso de dois jeitos. Um é a tradução literal, onde cada palavra é uma muleta, cada frase um eco mal interpretado. O outro — e mais raro — é a localização editorial – que tratamos Neste artigo que deu trabalho do cão de só Como Fazer um Pré-Projeto de tradução de RPG. Um trabalho onde se reescreve traindo,, onde se adapta sem empobrecer. E foi isso que a Tria fez. O texto flui. O português não apenas é correto: é expressivo. Ele respeita o leitor. Não infantiliza. Não traduz nome de classe como se estivesse vendendo caderno escolar.

E isso é raro.

Mais raro ainda é o cuidado gráfico. Porque sim, trocar imagens pode parecer cosmético. Mas quando bem feito, esse gesto muda o ritmo de leitura. Muda a respiração do livro. E aqui, Anime 5E respira diferente da versão gringa. Há mais arejamento nas páginas, mais contraste nos blocos de regra, uma sensação de que o conteúdo foi feito aqui, para cá. Mesmo que as ilustrações ainda carreguem a identidade anime, elas agora dialogam melhor com o layout — menos genéricas, mais integradas. Não é só uma estética, é uma curadoria.

A Tria sabia que esse jogo precisava funcionar como ponte. Entre o fã de D&D e o otaku de ação. Entre o jogador de mesa e o leitor de mangá. E essa ponte exige arquitetura. O texto, o ritmo, as imagens — tudo precisa apontar para o mesmo lugar. E isso exige mais do que licença internacional. Exige visão.

Visão essa que a Tria tem demonstrado não apenas nesse projeto. Quem acompanhou o financiamento de Symbaroum, Beyond the Wall, PunkApocalyptic, Ronin e agora Lancer, sabe que eles operam dentro de um cronograma raro no mercado nacional. O PDF do livro base está sempre pronto no primeiro dia. A entrega física muitas vezes em menos de três meses. Metas extras realistas, promessas cumpridas. E agora, com Anime 5E, esse padrão se repete: o PDF já está entregue. E a previsão de envio físico é outubro de 2025. 

Mas há algo ainda mais sutil — e talvez mais importante: o diálogo com a comunidade. A Tria mantém canais de WhatsApp para cada um dos seus jogos. Tem presença no Diversão Offline. Responde e-mails. Interage nos grupos do Whats. Não terceiriza o contato. E isso constrói uma confiança que não se compra com banner. Se hoje o financiamento de Anime 5E ultrapassou 220% da meta com mais de um mês pela frente, não é por acaso. É consequência.

E não pense que esse cuidado é apenas operacional. Ele é também curatorial. A escolha de trazer Anime 5E para o Brasil — num momento em que até a Wizards of the Coast começa a esfarelar sob o peso das próprias incoerências — é uma jogada de risco calculado. E isso diz muito sobre a Tria. Porque eles não foram atrás de um best-seller automático. Foram atrás de um RPG que desafia. Que desconstrói o formato clássico de classe e nível. Que convida o jogador a montar um boneco que estica, dança e ama — e tudo isso com planilha.

Há quem critique essa abordagem. Há quem diga que RPGs “de anime” são juvenis, caóticos, estéticos demais. Mas esses mesmos críticos, muitas vezes, se esquecem de que Dungeons & Dragons já é, há muito tempo, uma estética também. A estética do medieval pasteurizado. Da magia previsível. Da ficha modular. Anime 5E vem para bagunçar essa ordem. E a Tria entendeu isso. Não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de alargar a linguagem do jogo.

No PDF, os créditos são claros: além da equipe fundadora, há uma equipe de tradução, revisão, diagramação e suporte editorial nacional. O produto final é, sim, internacional. Mas a versão brasileira é um palimpsesto: respeita o texto original, mas reescreve com sotaque. E o mais curioso é que, ao fazer isso, a Tria conseguiu produzir algo melhor que o original em alguns aspectos. Não por ser diferente. Mas por ser mais coeso. Mais consciente do público que vai ler.

O Brasil nunca teve uma tradição forte de RPGs de anime. O BESM d20 passou quase despercebido, citei a atrocidade da Devir acima. O OVA circulou em nichos. E mesmo os sistemas independentes, como Overarms ou Big Motherfcking Crab Truckers, ainda esbarram na barreira do idioma. Anime 5E, com a chancela da Tria, quebra essa inércia. E quebra com estilo.

Porque o que está em jogo aqui não é apenas o lançamento de um livro. É a aposta numa outra linguagem de jogo. Um jogo que aceita personagens que falham porque amam. Que explode a lógica do build otimizado em nome da dramaticidade. Um jogo onde a ficha é menos uma planilha e mais um roteiro. E isso, convenhamos, é profundamente brasileiro.

A brasilidade aqui não está nas referências folclóricas (ainda que o próprio Bruno lembre que o Bestiário do Folclore Brasileiro pode ser usado com o sistema). Está no espírito de improviso. Na vontade de misturar. De fazer crossover entre o boi da cara preta e a Sakura Cardcaptor. De usar o sistema para simular Record of Ragnarok ou Kaiju No. 8. Está no desejo de rir, chorar e transformar isso em jogada de dado.

E talvez por isso o texto em português esteja, como disse o editor, “mais bonito”. Porque ele foi escrito não só com técnica, mas com empatia. Com a clareza de que o RPG não é só sistema. É linguagem. É encontro. É afeto. E, quando feito com honestidade, vira coisa séria.

A Tria entendeu isso. E entregou um produto que, mesmo antes do fim do financiamento, já pode ser chamado de referência. Não apenas pela agilidade. Mas pelo zelo. Pela escuta. Pela inteligência editorial.

E sim, pelo português bonito. Porque aqui, cada palavra conta. E cada escolha revela para quem — e por que — esse livro foi feito.

Anime 5E no Catarse: Quando um Financiamento Coletivo Decide ser uma Vitrine Editorial

Era para ser só mais um financiamento coletivo. Uma meta de R$ 10 mil, uns PDFs prontos, alguns brindes físicos, talvez uns dados exclusivos como chamariz. A fórmula está aí desde 2013, repetida à exaustão. Mas algo na campanha brasileira de Anime 5E resolveu não seguir o script. Talvez tenha sido o texto. Talvez o tom direto. Talvez a ousadia de prometer o PDF pronto já no primeiro dia. Talvez, só talvez, tenha sido porque a Tria Editora não tratou o projeto como uma campanha — mas como um gesto editorial.

Capa oficial do livro Anime 5E com personagens enfrentando um dragão e um slime em destaque no canto inferior.
A capa de Anime 5E mostra bem o espírito do jogo: épico, estilizado, criativo. Do slime à garota mágica, tudo é possível.

Começou no dia 13 de maio de 2025. E em poucas horas, a meta inicial de R$ 10 mil já havia sido ultrapassada. Ao momento da redação deste texto, o financiamento bateu 222% com 193 apoiadores — e ainda restam mais de 40 dias de campanha no ar. O Catarse, por sua vez, parece não estar preparado para esse tipo de RPG. Um RPG que mistura Slime Falante, Criança Mágica e Dobrador de som como se fosse tudo parte de uma mesma genealogia espiritual.

Mas vamos aos fatos. O texto oficial da campanha já abre sem rodeios: “Jogue em qualquer temática de anime, usando as regras da 5ª edição do maior RPG do mundo”. Pronto. Está dado o choque. O sistema mais rígido, mais domesticado, mais preso à lógica do medieval fantasioso — agora vendido como passível de emular Boku no Hero e Dan Da Dan. Alguém aí gritou blasfêmia? Pois é. Aqui, gritaram adesão.

Porque o que a Tria fez não foi apenas uma tradução. Não como promessa — como realidade. E isso, num país onde RPG impresso muitas vezes é um jogo de espera infinita, tem um peso simbólico. É o gesto que diz: a gente sabe o que estamos fazendo. E sabemos com quem estamos lidando.

Bruno Mares, na entrevista ao canal Contar e Mestrar, foi enfático: “Começa terça-feira. Bateu a meta, PDF para a galera”. E cumpriu. O arquivo chegou aos apoiadores no primeiro dia, em plataforma acessível, com instruções claras. Essa antecipação logística não é apenas eficiência. É estética. É uma forma de comunicar que o jogo está vivo — e que o compromisso não está em espera.

Os níveis de apoio variam do mínimo (PDF básico e metas digitais) até o pacote completo (livro físico, aventura impressa, escudo do mestre, dado personalizado e camiseta exclusiva). Sim, camiseta. Porque aqui, o merchandising ainda é necessidade. A peça, segundo o Catarse, estará disponível apenas durante a campanha, com tamanhos variados e escolha via formulário pós-financiamento. Nenhuma enrolação. Nenhuma promessa vaga. Está tudo lá, preto no branco.

E há também os upgrades. Outra raridade no RPG nacional. A possibilidade de quem apoiou com um valor menor subir de categoria durante a campanha, pagando apenas a diferença. Um mecanismo simples, mas elegante. Porque respeita o bolso do jogador sem punir sua hesitação inicial. E mais: os chamados “add-ons” (itens extras avulsos como o dado, o escudo e a camiseta) também estão disponíveis — desde que você já tenha apoiado algum dos níveis principais. Não é loot box. É loja com critério.

As metas extras também fogem do padrão. Nada de prometer cenário de campanha em outro planeta só porque bateu 300%. A Tria oferece incrementos funcionais: mais opções de personagem, novos monstros, acessórios para aventura. Bruno mesmo disse: “A parte de monstros extras, para mim, é o mais divertido”. Porque ele entende o apelo do desafio. E entende que o valor de um suplemento está na utilidade. Não no hype.

Em outro trecho da entrevista com Bruno, surge uma das falas mais reveladoras: “É um jogo gostosinho de jogar. Muito versátil. Você só precisa do livro básico. E ele tem mecânicas ali para entregar um desafio digno de um anime de grande jornada”. É disso que se trata. De um livro que se basta. De um sistema que não exige expansão infinita para se justificar. De um financiamento que entrega já no início — e melhora com o tempo.

E essa confiança vem sendo construída com regularidade. Os projetos anteriores da Tria mostram uma consistência rara. Beyond the Wall teve entrega do físico dois meses após o fim da campanha. PunkApocalyptic em três. Symbaroum já está na gráfica. Ronin, finalizado em maio, terá livros entregues ainda neste mês. Não é mágica. É gestão. E isso se reflete no apoio da comunidade.

E o mais importante: um jogador que quer apoio. Que quer se sentir parte de algo. Por isso o grupo de WhatsApp. Por isso os vídeos. Por isso a entrega rápida. Porque Anime 5E não é uma provocação apenas ao sistema da 5ª edição. É uma provocação ao próprio modelo editorial que ainda insiste em tratar o RPG como um produto de nicho sem alma.

Aqui há alma. E há corpo. Um corpo ilustrado, diagramado, impresso. Com tamanho generoso (21 x 28 cm), capa dura, arte colorida e texto nacional que, como já discutido no capítulo anterior, está mais bonito que o original. A versão brasileira não é xerox. É recriação. E o financiamento é a prova disso.

Conteúdo gráfico do livro Anime 5E mostrando personagens mágicos e fichas de raças fantásticas.
Exemplo das páginas internas de Anime 5E com regras de criação de personagem, tipos de experiência e opções de raças para aventuras em mundos inspirados em anime.

E ainda tem mais por vir. A Tria já anunciou seus próximos projetos: Cosmere RPG (pré-venda em junho), Shadow of the Weird Wizard (financiamento em julho), Legacy of Dragons (em agosto).

Então, sim. Anime 5E é um financiamento coletivo. Mas também é um ensaio sobre como lançar RPG no Brasil sem cair no folclore do atraso, na mentira da demanda artificial, no cinismo da promessa de infinito. É um gesto de “editorialidade”. Um lembrete de que RPG é coisa séria — mesmo quando é slime com poderes mágicos e classe de negociador interdimensional.

E talvez seja justamente por isso que está funcionando.

Porque não se trata apenas de apoiar um jogo. Trata-se de apoiar uma ideia sobre como esses jogos devem existir. E isso, nos tempos que correm, é mais revolucionário do que parece.

Vale a Pena Apoiar Anime 5E? O Jogo, a Proposta e o que Está em Disputa

Há uma pergunta que se repete sempre que um novo financiamento coletivo aparece com promessa demais e PDF de menos: “vale a pena apoiar?”. Normalmente, ela é um reflexo da frustração acumulada de campanhas atrasadas, PDFs que nunca chegam, entregas remarcadas e silêncio editorial. Mas no caso de Anime 5E, essa pergunta assume outro contorno. Porque aqui, o material está pronto. E a pergunta vira outra: “vale a pena fazer parte disso agora?”

Vamos deixar os óculos cor-de-rosa de lado. Anime 5E não é um jogo para qualquer mesa. Ele não é modular como um suplemento da DMs Guild, nem domesticado como uma adaptação oficial de Critical Role. É um jogo onde a liberdade é real — e por isso, incômoda. Onde o jogador precisa fazer escolhas que não têm tabelas prontas. Onde o Mestre precisa olhar para fichas que dobram a lógica do balanceamento tradicional e ainda assim manter o jogo fluindo. E onde a mesa inteira precisa aceitar que drama, afeto e estranhamento fazem parte da ficha.

É um jogo que não esconde o que é. Que diz, com todas as letras, que você pode jogar com um slime que dobra o som e treina pokémons. Que você pode fazer um crossover de Death Note com Boku no Hero em pleno Sword Art Online. E isso, para muitos jogadores, soa como carnaval de ficha. Mas para quem entendeu a proposta, é uma libertação. É a chance de usar o sistema d20 como deveria ter sido desde o início: um esqueleto para performance.

Então sim, se sua mesa é daquelas que ainda argumenta sobre a utilidade de uma Bola de Fogo conjurada em 5º círculo contra goblins, talvez Anime 5E não seja para você. Mas se sua mesa se empolga com conceitos como “nekogin transmorfo que canta hits de 1999 e invoca entidades do folclore brasileiro em forma de foguetes metafísicos”, então aqui está o seu manual.

A versão nacional do jogo — e isso é importante frisar — não é uma adaptação preguiçosa. Como já falei, ela foi retrabalhada, reescrita, reimaginada graficamente. Bruno Mares declarou sem floreios: “o português tá mais bonito”. E está mesmo. Não apenas pelo texto fluido, mas pela integração estética entre conteúdo e forma. A diagramação tem ritmo. A arte respira. A experiência de leitura — e sim, isso conta — é confortável e empolgante. Coisa rara.

E o valor? A partir de R$ 50 você já tem acesso ao PDF do livro básico e todas as metas digitais que forem batidas. A partir de R$ 80, você recebe o livro físico em capa dura. Os pacotes vão até os R$ 230, incluindo escudo, aventura impressa, dado exclusivo e camiseta. O custo-benefício, quando comparado com livros importados ou até mesmo com produtos nacionais de mesmo porte, é excelente. Mas mais do que isso: o custo-benefício aqui não está só no papel e tinta. Está no projeto.

A Tria tem entregado rápido, com consistência e escuta ativa. O histórico dos financiamentos anteriores (Symbaroum, PunkApocalyptic, Ronin, Lancer, Beyond the Wall) mostra isso com clareza. O PDF do Anime 5E foi entregue no dia da meta batida. O livro físico já tem previsão para outubro de 2025. Metas extras digitais saem até novembro. Não há promessas grandiosas. Há cronogramas realistas. E isso vale ouro num mercado que ainda vive de esperança e desconfiança.

E há o risco calculado. Sim, porque apoiar é isso: confiar. Confiar que aquele produto, mesmo pronto, será entregue com o cuidado que merece. Confiar que o dinheiro vai ser bem usado. Confiar que o jogo, ao chegar, vai se sustentar na mesa. E tudo indica que sim. Porque o sistema se mostra funcional, as regras são claras, os exemplos são abundantes, e o equilíbrio — ainda que voltado para o exagero narrativo — é coerente. Há consistência.

Além disso, há versatilidade. O jogo não depende de apego a anime para funcionar. Ele pode ser usado como um engine de personalização para qualquer campanha d20. Pode transformar Forgotten Realms em um delírio barroco de samurais místicos. Pode fazer de Ravnica uma ópera espacial de emoções condensadas. Pode ser, para muitos Mestres, a porta de entrada para narrativas mais abertas, mais simbólicas, mais desafiadoras.

Banner de divulgação do RPG Anime 5E com destaque para o PDF já disponível e personagens enfrentando um dragão.
Com estética anime e sistema d20, Anime 5E foi financiado em apenas 14 horas e já disponibilizou o PDF básico.

Então vale a pena? Para quem ainda acha que RPG é sobre jogar dado e contar história, sim. Vale cada centavo, cada minuto, cada ficha preenchida com ideias que não caberiam num Livro do Jogador. Vale pelo que o jogo oferece. Mas também pelo que representa. Um gesto editorial. Uma afirmação estética. Uma proposta radical de que o sistema d20 não precisa ser engessado — pode ser barroco, estranho, aberração, afetivo.

E se, ao final de tudo, você ainda estiver em dúvida, faça o seguinte: baixe o PDF. Ele já está disponível para apoiadores desde o primeiro dia. Leia. Jogue. Dobre uma ficha. Sinta. E depois me diga se ainda acha que slime não tem lugar no cânone da 5ª edição.

Porque talvez, nesse momento, seja o slime quem vai te ensinar o que é liberdade narrativa.

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2 comments

Marcus Silva 24/05/2025 at 08:35

Eu apoiei e não me arrependo nenhum pouco. Isso vindo de alguém que não joga e não tem apreço especial por D&D5e.
Entretanto é o BESM d20 dentro da engine, da maneira como você descreveu e ficou sensacional.
O autor foi extremamente habilidoso em destrinchar o motor da 5e e vincular os elementos que eram do BESM dentro da estética dos animes, dando total liberdade ao jogador para criar o que ele imaginar, sem as restrições comuns ao D&D, mas sem perder as características comuns que tornam o D&D um jogo sólido, bem estruturado, viável.
A tradução está sensacional e você tem realmente a sensação de estar jogando um jogo de Anime, com estética de anime, sem que as regras te atrapalhem; pelo contrário: elas otimizam o jogo de uma maneira que eu jamais imaginei que a 5e pudesse fazer pelo gênero.
Eu amo animes, diferente de você e finalmente ler e jogar algo que simule isso tão bem é revigorante.
Não largo mais!

Reply
Amanda Li 30/05/2025 at 10:15

Esse jogo ser publicado no Brasil enquanto o autor deu calote em todos os freelancers nos EUA quando fechou a Guardians of Order pela primeira vez é uma vergonha. E ainda por cima é um jogo ruim. Muito viralatismo apelar pra isso quando a gente tem o 3DeT.

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