E então, sem alarde, sem pompa, sem festa de arromba, a Lampião Game Studio libera NeoGhaluni Remaster de graça. Assim, do nada. E a reação do público? Um murmúrio abafado por timelines caóticas e feeds saturados de repetições insossas. Porque é assim que funciona. Vivemos em um tempo onde a generosidade genuína é estranhamente incômoda. Algo está disponível gratuitamente? Logo perguntam: “Onde está a pegadinha?”
Mas o mundo gira, a poeira assenta, e os jogos vêm e vão. Alguns, no entanto, insistem em desafiar a entropia. NeoGhaluni não nasceu para ser apenas mais um RPG brasileiro. Não foi concebido para surgir, brilhar rápido e desaparecer. Ele tinha algo diferente: uma pulsação, um movimento próprio, uma identidade que não pedia permissão para existir.
E, Mesmo Assim, Quase Desapareceu.
Se voltarmos a 2017, encontraremos o primeiro NeoGhaluni, um RPG independente que carregava um conceito ousado: um mundo onde a fantasia heroica urbana não era um detalhe, mas o próprio alicerce da realidade. Um espaço onde elfos e orcs dividiam as ruas com robôs, mercenários e sacerdotes. Onde espadas brilhavam no mesmo horizonte que arranha-céus e onde a tecnologia e a magia não apenas coexistiam, mas se fundiam de maneira brutalmente caótica.
Esse primeiro livro trouxe o continente de Alfel, um pedaço desse universo tão vivo que parecia pulsar dentro das páginas. E o público respondeu. A edição esgotou rapidamente, um feito raro para um RPG independente brasileiro. Havia um burburinho, um entusiasmo genuíno, e a comunidade queria mais. E mais veio. Em 2018, NeoGhaluni Ômega chegou, expandindo o cenário com o continente de Taru, outro mosaico urbano-fantástico repleto de novas culturas, histórias e possibilidades.
Mas havia um problema: a tiragem era limitada. Como todo jogo indie, NeoGhaluni vivia à sombra do mercado mainstream, e a cada cópia vendida, crescia a frustração de quem não conseguia encontrar o jogo. O tempo passou, e NeoGhaluni foi se tornando uma lenda de nicho. Algo que se falava com nostalgia. “Lembra daquele RPG brasileiro que misturava magia e tecnologia? Que tinha um sistema rápido e versátil? Pois é. Pena que não dá mais pra achar.”
Foi então que surgiu a decisão: não apenas relançá-lo, mas reconstruí-lo. NeoGhaluni Remaster não seria uma mera reimpressão. Ele seria o NeoGhaluni definitivo, combinando tudo o que veio antes, expandindo as mecânicas, refinando o sistema e trazendo uma apresentação que fizesse jus ao universo que Diego S. Bernard e a Lampião Game Studio haviam criado.
E assim veio o financiamento coletivo de 2022. Quem acompanhou a campanha sabe que não era só uma questão de bancar a impressão do livro – era uma tentativa de resgatar um universo que se recusava a morrer. O público respondeu novamente. A campanha foi um sucesso, provando que NeoGhaluni ainda tinha seu espaço, que ainda havia gente esperando para explorar suas ruas repletas de neon e poeira mágica, seus becos onde contratos são fechados com um aperto de mão e uma lâmina na garganta.
Mas ninguém esperava o que veio depois. Quando um jogo independente atinge seu objetivo, o passo seguinte é o natural: produzir, vender, girar a roda do mercado. Mas a Lampião Game Studio optou por um caminho que poucos ousariam. Em vez de transformar NeoGhaluni Remaster em um objeto de desejo inacessível, decidiram torná-lo gratuito. Um presente para a comunidade. Um voto de confiança no próprio jogo. E, de alguma forma, um manifesto contra a lógica do escasso, do exclusivo, do inacessível.
Agora, NeoGhaluni Remaster está disponível para todos. Sem barreiras. Sem muros. O RPG que recusou o esquecimento está vivo, pulsando, pronto para ser jogado.
Lampião Game Studio – A Tocha Acesa na Escuridão do RPG Indie Brasileiro
Existem estúdios de RPG. Existem coletivos criativos. E existe a Lampião Game Studio, uma anomalia necessária em um mercado que insiste em engatinhar quando deveria estar correndo. Não se trata apenas de um grupo de designers independentes – é um bastião de resistência, um movimento que prova que a produção nacional de RPG não precisa se contentar com migalhas, nem se dobrar às lógicas predatórias da indústria.
A Lampião não apenas cria jogos. Ela desafia modelos. Se recusa a seguir a cartilha do que um RPG indie “deveria ser”. E, por isso, incomoda. Desde sua fundação, o estúdio tem sido um celeiro de ideias que transitam entre o clássico e o experimental, entre a nostalgia e a ousadia. Seus jogos não nascem para agradar algoritmos ou encaixar-se em trends momentâneas – eles são feitos para provocar, para quebrar paradigmas e, principalmente, para lembrar a todos que RPG é, antes de tudo, um convite para imaginar além do óbvio.
E é exatamente esse espírito que fez com que a Lampião Game Studio ganhasse um espaço inquestionável no cenário nacional. Se NeoGhaluni é seu nome mais conhecido, ele está longe de ser o único projeto relevante que saiu desse laboratório de ideias.
Jogos que carregam identidade própria
A Lampião tem uma assinatura clara. Seja em sistemas novos ou adaptações de ideias pré-existentes, há sempre um quê de subversão, de “e se fizermos diferente?”.
Entre seus títulos mais marcantes, temos:
- Asfalto em Chamas – Um RPG de ação e perseguições eletrizantes, onde velocidade e sobrevivência andam lado a lado. Inspirado por clássicos do cinema como Mad Max e Velozes e Furiosos, mas filtrado por um olhar narrativo que coloca o jogador no centro da experiência, fazendo cada decisão contar.
- Em Busca da Chama – Um jogo que abraça o heroísmo trágico, o épico e o místico de uma maneira profundamente humana. Aqui, a jornada não é apenas sobre derrotar vilões, mas sobre entender o preço de carregar uma tocha acesa em um mundo que insiste em apagá-la.
- Crônicas de Ghaluni – Jornal de Amanhã – Um spin-off de NeoGhaluni que inverte a lógica do RPG tradicional. Em vez de mercenários em busca de glória, aqui os jogadores assumem o papel de repórteres investigativos, navegando pelos becos sombrios e pelos altos escalões da cidade para arrancar a verdade de um mundo onde informação é poder – e, muitas vezes, um poder letal.
A lista é ENORME, e você pode conferir ela no site deles (https://lampiaogamestudio.wordpress.com/nossos-jogos/).
Cada um desses jogos carrega a essência da Lampião: regras que se adaptam à narrativa, ambientações que são mais do que cenários e, acima de tudo, um respeito absoluto pela imaginação do jogador.
O Diferencial da Lampião? Fazer o Impossível Parecer Óbvio
O mercado brasileiro de RPG é uma selva. Pequeno, fragmentado, e constantemente esmagado por títulos estrangeiros que chegam com marketing pesado e uma comunidade já consolidada. Diante disso, a Lampião poderia ter optado pelo caminho mais fácil: imitar o que já existe, seguir a onda, tentar ser um estúdio “comercialmente seguro”. Mas não.
Em vez disso, decidiram arriscar.
- Criaram RPGs que não pedem desculpas por serem brasileiros, carregando referências, estéticas e temáticas que ressoam com o público nacional sem precisar de um selo de “brasilidade forçada”.
- Publicaram jogos que não se rendem a sistemas pasteurizados, optando por mecânicas que favorecem a experiência narrativa e não apenas números e estatísticas vazias.
- E, acima de tudo, mantiveram sua independência criativa, sem se dobrar a pressões de mercado que tentam encaixar RPGs independentes em moldes engessados.
E o caso de NeoGhaluni Remaster é o exemplo mais gritante disso. A decisão de disponibilizar o jogo gratuitamente não é apenas um gesto de generosidade – é um ato político, um manifesto contra a lógica da escassez artificial que transforma jogos em produtos de luxo inacessíveis.
Esse tipo de postura não é inédita entre os estúdios independentes brasileiros. A Coisinha Verde, por exemplo, segue uma filosofia semelhante, apostando em sistemas acessíveis e materiais gratuitos que fortalecem a comunidade em vez de explorá-la comercialmente. Em nosso artigo sobre Altaris RPG 2, destacamos como o jogo “corta essa gordura sem piedade” ao oferecer um sistema que “se resume a uma única rolagem: um dado de seis faces” . Tanto a Lampião quanto a Coisinha Verde compartilham essa visão de que RPG precisa ser acessível – e não um produto elitista restrito a quem pode pagar fortunas por livros importados.
Porque, no fim das contas, a Lampião Game Studio não está aqui para vender apenas livros de RPG. Está aqui para mudar a forma como o RPG é visto, jogado e produzido no Brasil.
O que virá depois? Difícil dizer. Mas uma coisa é certa: qualquer coisa que sair da Lampião nunca será previsível.
E isso, por si só, já é motivo para manter os olhos bem abertos.
Sobre NeoGhaluni Remaster – O RPG Que Desafia Fórmulas e Resgata o Espírito da Aventura
Há um certo desespero na previsibilidade. Uma mesmice entediante que domina o mercado de RPGs de mesa, onde sistemas se repetem com pequenas variações, como se o mundo estivesse preso a um ciclo interminável de “nova edição, mesmas regras, outro nome”. Então, surge NeoGhaluni Remaster. Um jogo que não pede permissão, não se encaixa confortavelmente em rótulos e, acima de tudo, não quer ser apenas mais um.
Criado por Diego S. Bernard, NeoGhaluni tem DNA de resistência. Um RPG que começou independente, financiado na raça, e que cresceu alimentado pelo entusiasmo da comunidade. Bernard, um designer que também é cineasta, editor e ilustrador, nunca escondeu sua paixão por contar histórias. E essa paixão transborda em cada página de NeoGhaluni Remaster, um RPG que não se contenta em ser jogado – ele quer ser vivido.
Mas o que faz esse jogo ser tão especial?
Um Mundo Onde Magia e Tecnologia Não Competem – Elas Dançam Juntas
Se os cenários tradicionais de RPG fossem festas, NeoGhaluni seria aquele convidado que chega de surpresa, rouba a cena e faz todo mundo perceber que estavam entediados antes dele aparecer.
Este não é um mundo onde elfos vivem em florestas ancestrais e magos se enclausuram em torres poeirentas. Aqui, a magia se infiltra nos circuitos elétricos, a tecnologia se molda ao sobrenatural, e o resultado é uma sociedade onde feitiçaria e máquinas fazem parte do cotidiano. Os arranha-céus de vidro brilham sob a luz de luas gêmeas, enquanto sacerdotes cibernéticos pregam suas doutrinas para legiões conectadas por redes místicas. Mercenários fazem contratos através de suas Carteiras de Mercenário, um sistema onde a burocracia do dinheiro e da fama define seu sucesso – ou sua morte.
E os personagens? São heróis, mas não no sentido banalizado da palavra. São figuras maiores que a vida, indivíduos que ultrapassam os limites do comum. São mercenários que trilham caminhos próprios, buscando não apenas ouro e glória, mas suas próprias verdades dentro desse universo caótico.
Sistema Rápido, Flexível e Mortalmente Estratégico
Se existe uma coisa que NeoGhaluni Remaster faz bem, é respeitar o tempo do jogador. O sistema é simples na superfície, permitindo que iniciantes mergulhem rapidamente no jogo, mas contém camadas e mais camadas de possibilidades para os veteranos que querem espremer cada gota de potencial estratégico.
O jogo introduz um sistema de classes dividido em Base, Intermediária e SobreClasse, permitindo uma progressão orgânica que evita os clássicos engessamentos. Aqui, um personagem pode evoluir de forma natural, expandindo suas capacidades sem ficar preso a uma única definição.
A mecânica de conjuração de magias também foi reformulada, trazendo uma abordagem mais dinâmica e intuitiva. Nada de páginas intermináveis de listas de feitiços que ninguém lembra de cabeça. A magia aqui é uma ferramenta, não uma burocracia.
E então temos o Bestiário Expandido. Porque nenhum grande RPG está completo sem um elenco de inimigos memoráveis. As criaturas de NeoGhaluni são mais do que obstáculos – são peças essenciais do mundo. Desde seres mecano-orgânicos até aberrações místicas que desafiam a própria realidade, cada encontro tem potencial para ser algo mais do que apenas números jogados nos dados.
O Diferencial? A liberdade
NeoGhaluni Remaster não entrega um caminho pronto. Não tem uma história que precisa ser seguida à risca. Ele oferece um mundo pulsante, repleto de oportunidades, e deixa que os jogadores decidam o que fazer com ele.
Quer ser um mercenário de elite, subindo no Ranking de Mercenário até se tornar uma lenda urbana? Pode. Quer largar tudo e fundar uma escola arcana nas favelas ocultas de Taru? Vá em frente. Quer explorar os becos e os subterrâneos da cidade em busca de segredos esquecidos? O mestre provavelmente já tem algo preparado para isso.
Poucos jogos conseguem equilibrar um sistema sólido com uma liberdade narrativa tão aberta. NeoGhaluni não é um RPG de mão beijada. Ele te dá as ferramentas e te desafia a construir algo maior.
E, agora, com o lançamento gratuito, não há mais desculpas. O jogo está disponível. O mundo de NeoGhaluni está esperando.
A única coisa que falta é você.
Baixe aqui: https://t.co/X3K2KR0Cqb
— Lampião Game Studio (@LampiaoGS) March 6, 2025