Números. Tudo começa e termina com eles. Quando são positivos, os executivos abrem sorrisos e as ações sobem. Quando caem, as reuniões ficam tensas, os investidores franzem a testa, e os jogadores especulam nos fóruns sobre o “fim de uma era”.
O Baque: Queda nas Vendas e o Fim de Um Ano Difícil
A Wizards of the Coast, divisão da Hasbro responsável por Magic: The Gathering e Dungeons & Dragons, fechou 2024 com um desempenho abaixo do esperado. As vendas do setor de tabletop gaming caíram 3%, reduzindo-se de US$ 1,072 bilhão em 2023 para US$ 1,039 bilhão em 2024. Magic, o carro-chefe da Wizards, sofreu um declínio de 1% no faturamento anual, resultado da ausência de um grande set no último trimestre comparável ao fenômeno que foi o lançamento de O Senhor dos Anéis: Contos da Terra Média no final de 2023.
O artigo da ICv2 detalha a redução de 3% nas vendas de jogos de mesa da Wizards of the Coast em 2024, com uma queda de 1% especificamente para “Magic: The Gathering”.
Mas os números mais impactantes surgiram no quarto trimestre de 2024. Durante esse período, as vendas totais da Wizards of the Coast e Digital Gaming caíram 7%, saindo de US$ 363,2 milhões em 2023 para US$ 339,0 milhões em 2024. Magic sofreu uma pancada ainda maior: queda de 19%, com US$ 208,4 milhões arrecadados no trimestre, contra US$ 258,3 milhões no mesmo período de 2023.
E Dungeons & Dragons? O RPG mais famoso do mundo também não escapou da tempestade. As receitas de tabletop da Wizards caíram 22% no último trimestre, com os números encolhendo de US$ 265,6 milhões para US$ 207,0 milhões. Uma queda considerável, que levanta questionamentos sobre o ritmo de lançamentos e o desgaste do público com os produtos atuais.
A questão que fica no ar é: essa queda é um sintoma de algo maior, ou apenas uma oscilação natural de mercado?
O Efeito Pós-Senhor dos Anéis e o Peso das Comparações
A comparação é inevitável. Em 2023, Magic: The Gathering viveu um ano de ouro com O Senhor dos Anéis: Contos da Terra Média, um crossover de sucesso que transcendeu o público tradicional do jogo. Jogadores casuais, fãs de Tolkien e até colecionadores que nunca haviam comprado um booster se renderam à magia do set. O resultado foi um impacto gigantesco nas vendas.
2024, por outro lado, não teve nada próximo desse nível. Faltou um evento de peso similar para manter o mesmo hype e atrair o público além dos jogadores tradicionais.
Outro fator que pode ter pesado foi o desgaste de produtos secundários e reimpressões. A Wizards tem apostado cada vez mais em lançamentos frequentes, uma estratégia que agrada a alguns, mas exaure outros. A saturação do mercado pode ter levado parte da base de jogadores a desacelerar o consumo, esperando lançamentos realmente impactantes.
E quanto a Dungeons & Dragons? Desde o estouro da popularidade com a 5ª edição, a Wizards vem acelerando o ritmo de lançamentos, mas parece que o público está começando a demonstrar sinais de fadiga. Muitos dos livros recentes receberam críticas mistas, e a polêmica do início de 2023 em torno da tentativa de mudanças na Open Game License (OGL) ainda ressoa na comunidade.
O Que a Hasbro Planeja para 2025?
Se 2024 foi um ano de retração, a Hasbro está determinada a mudar esse cenário em 2025. A empresa projeta um crescimento entre 5% e 7% no setor de Wizards of the Coast e Digital Gaming, apostando em grandes lançamentos e reformulações estratégicas. Com a linha Universes Beyond, que expande Magic: The Gathering para novos territórios, a Hasbro busca atrair tanto jogadores veteranos quanto um novo público para o jogo.
Os Grandes Lançamentos de 2025
Magic: The Gathering — FINAL FANTASY
Um dos lançamentos mais aguardados de 2025 é o conjunto Magic: The Gathering — FINAL FANTASY, que chega em 13 de junho. A fusão entre o RPG clássico da Square Enix e o sistema de colecionáveis de Magic promete ser um marco para ambos os jogos. O CEO da Hasbro, Chris Cocks, destacou que esse pode ser o maior conjunto da história de Magic: The Gathering.
O conjunto abrange os 16 jogos principais da franquia FINAL FANTASY, apresentando personagens icônicos, habilidades inspiradas em mecânicas do RPG e visuais exclusivos. Ao todo, mais de 100 cartas lendárias representarão heróis e vilões da saga, com 55 delas recebendo tratamento de moldura alternativa. As cartas virão em diferentes formatos:
- Play Boosters
- Collector Boosters
- Prerelease Packs
- Bundles
- Gift Bundles
- Commander Decks
Os Commander Decks serão temáticos, cada um baseado em um jogo específico da franquia: FINAL FANTASY VI, FINAL FANTASY VII, FINAL FANTASY X e FINAL FANTASY XIV.
A legalidade do conjunto também merece destaque:
- Magic: The Gathering — FINAL FANTASY (FIN) será legal no formato Standard.
- As séries FINAL FANTASY Commander (FIC) e FINAL FANTASY Through the Ages (FCA) serão legais em Commander, Legacy e Vintage.
Os produtos já estão em pré-venda, e a Hasbro já indicou que um lançamento especial para a temporada de fim de ano será anunciado futuramente.
Magic: The Gathering — Marvel’s Spider-Man
Outro grande destaque de 2025 é o lançamento do conjunto Magic: The Gathering — Marvel’s Spider-Man, previsto para o terceiro trimestre do ano. Esse será o primeiro grande lançamento da parceria entre Magic e a Marvel, trazendo personagens do Spider-Verse para o universo das cartas colecionáveis.
Diferente de outros Universes Beyond, esse conjunto será totalmente legal no formato Standard, o que representa uma abordagem estratégica da Wizards of the Coast para consolidar essa colaboração no metajogo competitivo. Durante a New York Comic Con de 2024, foram reveladas artes conceituais e especula-se que o conjunto incluirá vilões e aliados icônicos do universo do Homem-Aranha.
O conjunto contará com:
- Boosters específicos para Standard e outros formatos.
- Cartas com personagens clássicos e variantes do Spider-Verse.
- Arte alternativa exclusiva inspirada nos quadrinhos e nos filmes do Homem-Aranha.
Um Terceiro Set Misterioso
Além dos lançamentos confirmados, a Hasbro mencionou um terceiro conjunto Universes Beyond, mas sem revelar detalhes. Essa abordagem sugere uma estratégia de manter a curiosidade dos jogadores e colecionadores, gerando expectativas e especulações sobre qual será a próxima grande colaboração de Magic: The Gathering.
Expansão de Magic: The Gathering e Projeção para 2025
A estratégia da Hasbro para Magic: The Gathering em 2025 é clara: consolidar a linha Universes Beyond e ampliar o alcance do jogo para além do seu público tradicional. Com colaborações cada vez mais ambiciosas, a Wizards of the Coast está apostando na expansão do jogo para novas audiências, explorando o apelo de franquias icônicas e consolidando seu mercado global.
A aposta da Hasbro é clara: atrair públicos novos e antigos, ampliando a relevância de Magic para além do público tradicional de jogos de cartas. Com a chegada de FINAL FANTASY e Spider-Man, 2025 promete ser um ano de grande impacto para o jogo de cartas mais popular do mundo.
Dungeons & Dragons: O Futuro é um Jogo de Sombras e Dragões
E então, 2025 se anuncia e, com ele, Dungeons & Dragons expande seus tentáculos para envolver o impossível. Durante o MagicCon Chicago, a Wizards of the Coast ergueu a cortina sobre duas novas promessas de aventura e devaneio, dois convites para o abismo lúdico onde a fantasia se refaz incessantemente.
Dragon Delves – Os Dragões Que Nos Observam
Primeiro, temos Dragon Delves, um livro de aventuras marcado para o fatídico 8 de julho de 2025. Trata-se de uma coleção de dez histórias curtas, cada qual orbitando um dos dez dragões cromáticos e metálicos que, ao longo das eras, impuseram respeito e desgraça aos incautos. São aventuras criadas para aqueles que não têm tempo a perder – o Mestre não precisa preparar um tratado acadêmico antes de começar; basta abrir o livro e o caos se instala. São desafios feitos para personagens de nível 1 a 12, perfeitos para quem quer ser devorado com elegância.
Além disso, o livro vem com uma retrospectiva visual que revisita a iconografia dracônica desde os primórdios de D&D. Uma arqueologia do sublime e do temível. Um memorial para as bestas que devoraram nossos sonhos e nos obrigaram a imaginá-las cada vez maiores. Cada aventura terá um dragão no centro da narrativa, explorando diferentes temas, desafios e estilos de jogo – de batalhas épicas a tramas políticas e dilemas morais.
Lorwyn e Shadowmoor – O Jogo de Luz e Trevas
E, como se não bastasse, o crossover entre D&D e Magic retorna, e o palco desta vez é Lorwyn e Shadowmoor. Um lugar de dupla identidade, uma entidade esquizofrênica que alterna entre dois estados extremos a cada 300 anos. Um dia, Lorwyn se apresenta como um idílio perpétuo, repleto de fadas e duendes embriagados de verão. No outro, a escuridão se fecha e Shadowmoor engole tudo – criaturas deformadas, tragédias incessantes e a luta sem fim pela sobrevivência.
Esse novo suplemento não se limitará a traduzir o universo de Magic para D&D. Ele proporá uma nova leitura desse cenário mutável, desafiando aventureiros a transitarem entre um campo de flores e um matadouro de sombras. Um experimento de identidade, uma reflexão sobre a mutabilidade do destino. Em Lorwyn, a beleza e a magia florescem, um mundo inspirado em contos de fadas e mitologias celtas. Mas quando o ciclo se inverte, Shadowmoor emerge, transfigurando tudo em um pesadelo perpétuo de desconfiança e medo.
A adaptação de Lorwyn e Shadowmoor para D&D será mais do que um simples suplemento. Ela se encaixa em uma tradição de crossovers que têm levado o RPG a novas dimensões. Tivemos Strixhaven: A Curriculum of Chaos (2021), que nos levou à prestigiada universidade de magia; Mythic Odysseys of Theros (2020), que nos transportou para um mundo de lendas inspiradas na mitologia grega; e Guildmaster’s Guide to Ravnica (2018), que trouxe intriga política e embates entre guildas para as mesas de D&D. Além disso, a série Plane Shift, desenvolvida por James Wyatt, apresentou universos como Zendikar, Innistrad e Amonkhet como cenários jogáveis dentro de D&D.
Um Futuro Onde Tudo se Conecta
Com esses anúncios, a Wizards reafirma sua vocação: fundir o antigo com o novo, o imutável com o imprevisível. Dragon Delves facilita a vida de quem quer ser surpreendido sem tempo para burocracias. O crossover com Lorwyn e Shadowmoor reforça o D&D como um território maleável, onde as regras são importantes, mas os mundos são maiores do que qualquer dado possa prever. Dessa vez, há uma intenção clara de conectar ainda mais os fãs de Magic e D&D, criando oportunidades para explorar esses cenários não apenas como um palco para aventuras, mas como experiências narrativas únicas.
E o que mais nos aguarda? Talvez uma nova descida ao pesadelo de Phyrexia, ou talvez algo que ainda não sabemos que desejamos. O futuro de D&D se insinua como um dragão no escuro – e o único jeito de vê-lo inteiro é seguir jogando. Se há algo que aprendemos com essas revelações, é que a imaginação não tem fronteiras. A única pergunta que resta é: para onde você quer viajar primeiro?
Jogada de Mestre ou Última Cartada?
O mercado de jogos de mesa nunca foi estático. Como um tabuleiro sempre em movimento, há eras douradas e momentos de retração. A Hasbro conhece bem esse ciclo, e as quedas registradas em 2024 acenderam um alerta: a necessidade de renovação é urgente. D&D e Magic: The Gathering não estão morrendo, mas a empresa precisa provar que sabe como manter essas franquias relevantes.
A resposta para essa crise parece vir em múltiplas frentes. Os novos crossovers, como a ambiciosa parceria com Final Fantasy, prometem revitalizar Magic, enquanto Dragon Delves visa reacender o fascínio por D&D com histórias compactas e centradas em um de seus ícones mais poderosos: os dragões. Há também um esforço para expandir a presença digital, com projetos como o Project Sigil, embora esse último tenha encontrado desafios significativos.
No entanto, algumas dúvidas permanecem. Para Mike Mearls, um dos arquitetos da 5ª edição de D&D, a franquia pode estar perdendo fôlego. Segundo ele, a falta de inovação, somada a decisões corporativas excessivamente cautelosas, pode estar afastando tanto veteranos quanto novos jogadores. O RPG de mesa vive um momento de transição, onde títulos independentes ganham cada vez mais espaço. A ascensão de sistemas inovadores e coletivos colaborativos, como a bem-sucedida iniciativa Mothership Month, sugere que a diversificação está se tornando a nova norma.
Assim, 2025 não é apenas um novo ciclo para D&D e Magic—é um teste de resistência. Se a estratégia da Hasbro funcionar, esse pode ser o ano do renascimento para essas franquias. Caso contrário, o futuro do RPG pode se tornar ainda mais descentralizado, com novos protagonistas tomando o espaço que um dia pertenceu aos gigantes.
A única certeza? O jogo ainda não acabou. E como qualquer bom jogador de D&D sabe, sempre há uma jogada inesperada que pode virar o destino da mesa.
Uma resposta
I rapaz, que zona esse magic, é magic spider man, magic final fantasy, magic senhor dos aneis.
Não demora chegar um D&D no spiderverse hahaha