LaserHead Press e Retificação do Artifício RPG
Antes de qualquer análise sobre o financiamento de Shadowdark RPG, é preciso fazer uma retificação importante. Ao contrário do que afirmamos anteriormente, a LaserHead Press não é uma editora inexperiente ou sem histórico de entregas. Pelo contrário, trata-se de um estúdio que, em menos de um ano de existência, já se consolidou como um dos nomes mais promissores do mercado brasileiro de RPGs. Com uma equipe composta por profissionais que trabalharam na produção de suplementos para Vampire: The Masquerade e diversas outras linhas de jogos de mesa, a editora rapidamente demonstrou sua capacidade de entregar produtos de qualidade, dentro do prazo e sem recorrer a financiamento coletivo para a maioria de seus títulos.
Diferente do que se afirmamos antes, a LaserHead Press não depende do financiamento coletivo para viabilizar seus projetos. Ela já lançou títulos relevantes no Brasil, como DCC Horror #5: Rasteje, Skrag, Rasteje!, DCC #86: A Fenda no Céu, Carcass Crawler #1 e Carcass Crawler #2, provando que tem estrutura para publicar RPGs de peso de forma independente. E continuará a fazê-lo, mantendo um compromisso claro com sua base de fãs.
O sucesso de Shadowdark RPG no Catarse é mais uma prova dessa credibilidade. Em apenas uma hora, o financiamento atingiu sua meta inicial, demonstrando a confiança que o público deposita na editora. Esse feito não é casual, mas sim reflexo de um trabalho bem feito, de uma equipe editorial competente e de um planejamento sólido que não se baseia em promessas vazias.
O erro cometido ao questionar a capacidade da LaserHead Press deve ser corrigido com o devido reconhecimento. Esta não é uma editora que apenas anuncia projetos – é uma que entrega. É uma equipe com um histórico sólido, que já demonstrou ser capaz de trazer grandes títulos para o Brasil sem depender de financiamento coletivo, e que agora aposta nessa ferramenta para expandir ainda mais seu catálogo. O financiamento de Shadowdark RPG não é um teste para a editora, mas sim uma nova etapa de um trabalho que já se provou bem-sucedido.
Além disso, pedimos desculpas pelas informações equivocadas e pela falha em nossa apuração inicial. O reconhecimento da credibilidade da LaserHead Press não apenas faz justiça ao seu trabalho, mas também reforça a importância de se basear em fontes confiáveis e no histórico real da editora. Agradecemos imensamente àqueles que nos apontaram esse erro e contribuíram para que essa retificação fosse feita de maneira justa e transparente.
Portanto, a análise que segue deve ser lida com essa retificação em mente: a LaserHead Press não precisa provar sua credibilidade, pois ela já foi demonstrada por suas entregas anteriores. Se há algo que esse financiamento evidencia, é que a editora já conquistou seu espaço no mercado e que sua trajetória está apenas começando.
Sobre Shadowdark RPG
Um jogo de fantasia clássica para jogadores da 5E e da velha guarda. Essa promessa estampada nas divulgações de Shadowdark RPG não deixa de ser verdadeira, mas também escancara um paradoxo. Afinal, se tudo que é clássico precisa de uma nova roupagem para se comunicar com os jogadores modernos, até que ponto ainda é clássico? E se a velha guarda precisa de um jogo que a traduza para uma nova geração, será que a experiência original não se perdeu no caminho?
A Arcane Library lançou Shadowdark como uma ponte entre o D&D moderno e o espírito da escola OSR. O jogo conquistou quatro medalhas de ouro no Ennie Awards e trouxe uma proposta simplificada, brutal e ágil. Mas, ao contrário do que se pode esperar de uma premiação desse porte, Shadowdark não revolucionou nada. Ele apenas aperfeiçoou engrenagens já conhecidas e as embalou com um timing perfeito de marketing, surfando na onda do descontentamento com a Wizards of the Coast durante o fiasco da OGL de 2023. Foi um golpe de sorte ou um olhar astuto para o mercado?
O sistema, em sua essência, é uma adaptação. D&D simplificado, sem a burocracia moderna, mas sem o experimentalismo caótico de títulos como Mörk Borg ou Troika! A progressão do personagem é linear e despretensiosa: nada de árvores de talentos, nada de classes empilháveis, nada de otimização. É o clássico “role seus atributos e aceite seu destino”. Se é liberdade ou limitação, depende do gosto do jogador.
As mecânicas fluem bem: a iniciativa contínua evita engessamentos e os testes simplificados mantêm o jogo rápido. Mas será que isso é um mérito do design ou apenas um reflexo do abandono de regras excessivamente amarradas? O jogo não precisa se justificar com sistemas inovadores, apenas com a experiência que entrega – e nisso ele não falha. Mas também não surpreende.
A questão não é se Shadowdark é um bom jogo – ele é. Mas será que ele representa um marco ou apenas mais um degrau no ciclo infinito das reinvenções do passado? No fim, o que define a relevância de um sistema não é o design, mas a comunidade que ele constrói ao redor de si. E nisso, Shadowdark ainda tem muito a provar.
O jogo carrega consigo um certo fascínio pela escuridão, pelo claustrofóbico, pelo primitivo. Ele quer simular o medo do desconhecido, a incerteza da exploração, a exaustão do recurso limitado – mas faz isso dentro de um ambiente limpo, diagramado de maneira moderna, sem o ranço das tabelas infindáveis dos anos 80. Não há confusão, não há páginas amareladas de xerox malfeito. É um jogo antigo nascido em berço novo.
Mas há uma pergunta incômoda flutuando na periferia desse debate: por que exatamente precisamos de Shadowdark? Se o que queremos é a simplicidade brutal da OSR, ela já está bem representada por títulos como Knave, The Black Hack, Old-School Essentials. Se buscamos uma alternativa ao D&D 5E, temos Dungeon Crawl Classics, Forbidden Lands, Against the Darkmaster. O que faz de Shadowdark algo que precisa existir? A resposta talvez esteja no timing. Foi um jogo que apareceu na hora exata, no momento certo, no meio de uma debandada de jogadores da 5E que, desiludidos, procuravam um novo lar. E encontraram esse lar em um RPG que lhes soava familiar, mas desafiador.
O fato de ser um jogo construído para transição, para servir de ponte, também o torna vítima de seu próprio sucesso. Um sistema-ponte não é um destino final, e todo jogador que entra nele, um dia, terá que escolher entre ficar ou seguir adiante. Alguns vão encarar Shadowdark como um aperitivo e logo migrar para jogos ainda mais crus e sem concessões. Outros vão perceber que, no fundo, gostavam mesmo era de 5E e voltar para os braços do sistema que tentavam abandonar.
O preço da escuridão
A campanha abre um leque de apoios que vão do digital ao extravagante:
- R$ 50 – Apenas o PDF e metas extras digitais.
- R$ 195 – Livro físico, PDF e metas extras (oferta para as primeiras 24h).
- R$ 220 – Mesma versão impressa, sem o desconto inicial.
- R$ 280 – Livro físico, PDF e o Escudo do Mestre impresso (oferta 24h).
- R$ 300 – Mesmo conteúdo, sem o desconto promocional.
- R$ 475 a R$ 900 – Pacotes que incluem suplementos, escudos, camisetas, fichas e extras colecionáveis.
A meta inicial de R$ 80.000 parecia um teste para medir a confiança do público na LaserHead Press, mas qualquer dúvida foi dissipada em menos de uma hora. O financiamento atingiu seu objetivo inicial com rapidez impressionante, demonstrando não apenas o apelo de Shadowdark RPG, mas também a credibilidade que a editora já conquistou. Esse resultado é um indicativo claro de que o projeto não é um salto de fé, mas um investimento seguro em uma equipe que já provou sua capacidade de entrega.
Vale a pena apostar?
Definitivamente. O sucesso imediato da campanha prova que Shadowdark RPG não é apenas mais um financiamento coletivo buscando espaço – é um título desejado e apoiado massivamente. Em um mercado onde confiança e histórico de entregas fazem toda a diferença, a resposta do público reforça que há razões concretas para investir nesse projeto.
O histórico de financiamentos no Brasil já mostrou que é preciso cautela, mas o caso de Shadowdark segue um caminho diferente. Projetos como Tormenta20 e The Dark Eye enfrentaram desafios na produção e distribuição, mas a LaserHead Press já demonstrou eficiência ao lançar títulos sem financiamento prévio, e este novo passo reforça seu compromisso com a qualidade e os prazos.
Se você busca um RPG com um sistema sólido e uma proposta envolvente, Shadowdark RPG é uma escolha certeira. O apoio massivo em tempo recorde mostra que a comunidade já comprou essa ideia – e agora, a decisão está nas mãos de quem deseja fazer parte dessa nova fase do RPG no Brasil.